Escola de Sustentabilidade Integral

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Vivência Sítio do Futuro



No último feriado da Semana Santa tivemos no Sítio do Futuro uma vivência muito alegre e produtiva sobre Permacultura e Meditação.
A programação contou com diversas atividades pautadas na interação coletiva e na consciência da construção e cooperação da vida em comunidade. Dessa vivência, partilhamos um pouco a seguir, cientes que as palavras conseguem, de forma singela, descrever os sentimentos provenientes deste tipo de imersão.
Nosso grupo tribal, formado por 13 pessoas, chegou ao Sítio na quinta-feira (18/04) no começo da tarde, onde demos início a uma jornada de (auto)conhecimento, compartilhamento, práticas meditativas e experiências com uma outra forma de nos relacionarmos com a Natureza.
A vivência começou, após o almoço e descanso, com uma breve explicação sobre a construção da casa principal do sítio e as técnicas de bioconstrução que foram utilizadas durante o processo (tecnologia ecológica de tratamento de resíduos, construção em adobe, sanitário seco, entre outros detalhes); informações sobre os materiais que foram usados a partir do reaproveitamento e pormenores sobre o projeto, criando um ambiente de intimidade através de sua intenção e de acolhimento através de sua história.
Nossas manhãs, iniciadas com atividade física e meditação por intermédio do Suryanamaskar (ou Saudação ao Sol), que é uma prática da ioga, despertaram a atenção para um modo leve e saudável de começar o dia, transmitindo essa leveza para a mente e para o corpo, de forma natural e gradativa, trabalhando nossos pensamentos e anseios internos, de modo a observar melhor o que nos rodeia e a beleza intrínseca em cada alvorecer.

Em visita à agrofloresta, visualizando as plantações orgânicas com a companhia e supervisão da Profª Débora Nunes, tivemos explicações e detalhes sobre o plantio e formas de consumo, exploramos informações acerca de algumas PANC’S (Plantas Alimentícias Não Convencionais), plantas nativas e as dificuldades do plantio. Com um novo olhar, entendemos a necessidade e importância da persistência para este tipo de projeto e, principalmente, respeito à Natureza no processo de cultivar, entendendo que ela - a Natureza - possui um “cronograma” próprio e que não podemos impor o que queremos ou o que esperamos, somando a esse respeito a expertise que é adquirida ao longo do tempo por quem cultiva (n)a terra através de gerações, que perpassam as famílias e que compõem a nossa ancestralidade.
Também tivemos visita à horta, com ensinamentos sobre colheita de temperos e ervas para o preparo das refeições vegetarianas, o que é um outro ponto forte da vivência: a desconstrução, que também podemos chamar de reconstrução, do modo como nos relacionamos com os alimentos, inclusive os de origem animal.
As refeições, produzidas, na maior parte das vezes, coletivamente, tiveram cardápios diversificados, buscando evitar ao máximo o desperdício, trabalhando a nossa criatividade para, por exemplo, reaproveitar no jantar algo que havia restado do almoço (como fizemos com o que sobrou do feijão; que se tornou sopa, bolinho e um delicioso tutu de feijão). Saladas variadas, com a parte branca da melancia, mamão verde ralado e flores comestíveis e saborosas, entre outros “exóticos” ingredientes, trouxeram ainda mais cor para as nossas refeições, mostrando que não precisamos viver restritos aos enlatados ou apenas aos legumes e verduras convencionais. Sem falar que cada momento de reunião para nos alimentarmos era acompanhado por um profundo cuidado e zelo de todos para todos e com todos, que poderíamos nomear como uma união de almas, na singela tentativa de explicar como pessoas que praticamente nunca haviam se visto puderam construir laços tão profundos em tão pouco tempo.
O descanso e o silêncio após as refeições foram também algo novo e revigorante, pois contrapõe o comum hábito que muitos de nós temos; de negligenciar as refeições e/ou não aproveitá-las como deveríamos, muito menos achar tempo para deixar o corpo mais confortável no processo da digestão. Desacelerar foi uma das nossas palavras de ordem. Dentro do contexto da vivência e sempre com o intuito de estimular a troca de conhecimento, tivemos uma aula sobre os novos paradigmas e desafios atuais, com aplicação de questionário para entender o papel que cada um de nós desempenha na ecocidadania, aproveitando o momento para compartilhar experiências, e, coletivamente, contribuir uns com os outros para aprendermos e compreendermos melhor a transição que estamos vivendo. Fizemos uma roda de conversa à luz do luar, com direito a fogueira e autoprojeções para 2.040, percebendo que pensar o futuro de forma negativa e fatídica, diante de tantas calamidades e tantos desastres resultantes da ação desenfreada do homem, é fácil, mas que temos a desafiadora Missão de ignorar essa parte deletéria e sermos, a partir de hoje, a partir de agora, a mudança que queremos ver no mundo, como disse sabiamente Gandhi.
Em consonância com os estudos da permacultura e experimentando, literalmente, o que faz e como vive um lavrador, plantamos árvores (Pitanga e Moringa) para compensação de carbono, com instruções sobre a forma de plantio, adubação, quantidade de água, além da (re)utilização de garrafas pet para cultivo das mudas. Um misto de gratidão e ansiedade foi experimentado pelo grupo durante e ao final deste processo, tanto por saber que estamos contribuindo para a construção de algo melhor quanto por querer coletar pitangas num futuro próximo.
Em nosso passeio à Cachoeira do Covas, com aplicação de babosa nos cabelos e no corpo e banho de argila, perenizamos um dos momentos de maior descontração e interação entre o grupo tribal, repleto de companheirismo e alegria, admirando as belezas naturais e a força da Natureza e até mesmo enfrentando alguns medos e desafios pessoais, fortalecendo nossa energia interior e enaltecendo a capacidade que temos de superar as adversidades que nos afligem.
Foi interessante ouvir numa breve entrevista de um dos tribais que o sítio resgatou algo que ele não fazia há algum tempo porque no dia a dia as ocupações não permitem, como perceber que não precisamos acumular sentimentos e sensações desnecessárias, que a “desocupação” da mente é essencial para desacelerarmos do ritmo frenético atual, que nos robotiza e nos priva de sermos o melhor que podemos ser.
Na Oficina com Telhas, criamos e fixamos a uma das paredes externas da casa principal flores, para decorar, para enfeitar, para eternizar nossa passagem pelo sítio, reaproveitando materiais que normalmente iriam para o lixo, mas que podem se tornar algo incrível, com a história e a energia de cada uma das pessoas que construiu/que constrói/que vai construir algo no Oásis, como diz a Profª Débora, que é o Sítio.
Mais próximo de nosso retorno à Salvador, sentimos a fluidez da convivência, em que já não era necessário uma direção para dividir as funções, pois todos partilhavam a comunhão das tarefas e a autogestão das atividades, no entendimento de que o convívio coletivo é marcado pela ação coletiva, de forma confortável e espontânea.
O Sítio permitiu a nós - e permite a quem o visita - experimentar de forma literal uma outra maneira de nos relacionarmos com o mundo, com a Mãe Terra, com os outros e conosco. E, particularmente, nesta vivência, marcada pela diversidade, inclusive de idade, tendo como "integrante" mais nova uma criança de 09 anos e como mais experiente um adulto de 78, denota-se a sobriedade e a amplitude das questões ambientais. Que além de nos levarem a ressignificar nosso modo de vida, conceitos de (e com) relação com a Natureza, nos fazem enaltecer o nosso vínculo com o outro, deixando de lado o egoísmo e a competição para dar espaço ao companheirismo e à cooperação.
A beleza do lugar, que tem muito verde durante o dia e um espetáculo incrível de vagalumes à noite, é acompanhada pela pluralidade das plantas e flores, das borboletas e animais que ali habitam, pelo canto dos pássaros, pelo som leve e tranquilo das cachoeiras e rios e pela sensação de paz que está espalhada por todos os lados. Foi a junção mágica de tudo o que vimos, sentimos e ouvimos, que tornou a vivência tão importante para nós, de modo que nenhum dos tribais deixou o Sítio do Futuro do mesmo modo como chegou a ele, pois, apesar de ter durado apenas 04 dias, construímos, desconstruímos, reconstruímos e ressignificamos conceitos, em muitos casos, de uma vida inteira. Que não seja um peso em nossa consciência o impacto de nossa existência material, mas, sim, um motivo de orgulho e reconhecimento pessoal e coletivo a nossa coerência de vida.
Na ausência fortuita de uma câmera capaz de captar e simploriamente reproduzir o mar de vagalumes que habita o sítio, temos o quadro pintado pela bióloga e artista Muriel Brossard, que de forma incrível traduz emoções que só podem ser entendidas na (bio)luminescência inefável que apenas os olhos conseguem enxergar, na poesia que é estar no Sítio do Futuro.

Que venha (em breve) a próxima vivência e que o nosso Sítio do Futuro possa se tornar o Sítio do Presente!

                                                                                                      Cíntia Veríssimo

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